Protocolos específicos e uso de novas tecnologias são aliados na prevenção de lesão por pressão
A prevenção da Lesão por Pressão (LP) é tema permanente no ambiente hospitalar. Isso porque o risco de pessoas acamadas e idosas desenvolverem lesões, popularmente conhecidas como escaras, é elevado, já que a mobilidade delas é reduzida e a pele costuma ser mais fina e sensível. Este agravo pode evoluir para complicações, como infecções mais graves. Para reforçar o cuidado em evitar esse problema, unidades da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), como o Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), em Fortaleza, e o Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte, adotam um protocolo de prevenção.
Estão envolvidas diretrizes, tecnologias e estratégias que permeiam a equipe assistencial e também os cuidadores. A enfermeira estomaterapeuta do Helv, Alessandra Mororó, explica que o protocolo envolve medidas realizadas pela equipe de enfermagem.
“Podemos citar a avaliação do risco para LP na admissão e, diariamente, fazer o reposicionamento do paciente a cada duas horas, chamar a atenção para a correta higiene e hidratação da pele, além de medidas de redução de umidade, estimular a ingestão de água para hidratação. Para aqueles com risco moderado ou alto, usamos o colchão pneumático para redistribuição da pressão do corpo”, exemplifica.
Essas medidas têm garantido a integridade da pele de Mauro Roberto Martins, 70. Internado há 46 dias para tratar de uma pneumonia, o paciente faz uso de colchão pneumático e de uma tecnologia inovadora: o curativo multicamadas.
“Esse curativo é usado, em especial, na região sacral [base da coluna vertebral, na região lombar], área com maior incidência de LP. Ele é composto por uma camada de silicone para adesividade e remoção controlada, uma camada de espuma que absorve e regula o microclima, e uma camada externa de poliuretano impermeável, que oferece proteção eficaz e duradoura, contribuindo para a integridade da pele”, explica Alessandra Mororó.
Além dos cuidados de enfermagem, Mauro recebe acompanhamento nutricional. A nutricionista Rebeca Nogueira explica que é realizada uma triagem nutricional no paciente logo após a admissão. Essa avaliação é repetida a cada sete dias. “A desnutrição também é um fator que cria condições para o surgimento da LP, pois pacientes desnutridos possuem menos tecido muscular, aumentando o atrito ósseo e, consequentemente, o risco de lesões”.
Uma parte importante do trabalho da nutrição é a comunicação com a equipe multiprofissional. “Quando a enfermeira nos informa sobre uma lesão, verificamos seu estágio, se está no início ou já avançado, para decidir as intervenções nutricionais. Em casos de lesões, inserimos suplementos nutricionais na rotina alimentar do paciente, ajustando a suplementação à dieta para alcançar a meta calórica e proteica necessária. Também usamos suplementos específicos para a cicatrização”, avalia a nutricionista.
A servidora pública Gardênia Martins, 44, filha de seu Mauro, avalia positivamente o trabalho da equipe. “Eu até comentei com a minha mãe sobre o cuidado que a equipe da estomaterapia tem para evitar escaras. Além disso, temos uma atenção constante: o fonoaudiólogo, o fisioterapeuta, as técnicas, todos sempre estão por perto. A alimentação é exemplar, tanto para ele quanto para o acompanhante. Aqui, há um olhar muito humano, e estou muito satisfeita com o atendimento”, disse.
HRC promove integração com familiares e cuidadores para prevenir lesões por pressão
“Se o paciente puder, coloque ele para sentar, para se virar, porque se você deixar ele deitado o dia todo na mesma posição, quando for ver, vai ter lesão na lombar, nos braços, nos pés”. Esse é o conselho de Maria de Lourdes Pereira, 60 (foto), conhecida como Lurdinha. Ela é cuidadora de pacientes há 25 anos e, nos últimos 13, tem acompanhado pacientes no Hospital Regional do Cariri (HRC), unidade da Sesa em Juazeiro do Norte.
No HRC, são desenvolvidas estratégias que buscam integrar a comunidade, especialmente os familiares e acompanhantes dos pacientes, nos cuidados diários para prevenir as lesões por pressão. Para Lurdinha, adotar essas ações na rotina dos pacientes, sempre com autorização da equipe multiprofissional, é fundamental. “A importância em manter esses cuidados é porque além do paciente já estar com uma doença, se ele ainda desenvolver uma lesão, vai ser muito doloroso tanto para ele, quanto para a família e para o cuidador”, destaca.
Paralelo às capacitações e aos treinamentos voltados para as equipes multiprofissionais do hospital, são realizados momentos educativos e de orientações também para os acompanhantes e cuidadores, em parceria com o Serviço Social e com o Programa de Atendimento Domiciliar (PAD). Os cuidados essenciais, como mudanças frequentes de posição, hidratação da pele e o uso de colchões e almofadas específicos, são compartilhados para que todos compreendam as técnicas e possam praticá-las.
“O papel dos cuidadores é indispensável neste processo, pois eles acompanham os pacientes de perto e garantem que as orientações sejam seguidas tanto no hospital quanto em casa, pois, após a alta, são eles que, em muitos casos, seguirão com a rotina de cuidados para prevenir o surgimento de lesões”, afirma a enfermeira estomaterapeuta do HRC, Yterfania Feitosa.
Campanha nacional
Ainda como parte das estratégias de prevenção das lesões, anualmente, o HRC adere à campanha nacional “Mude de Lado”, realizada pela Associação Brasileira de Estomaterapia (Sobest), com a realização do Dia “D”, que tem como objetivo sensibilizar profissionais de saúde, familiares e acompanhantes sobre o tema.
Este ano de 2024, a campanha abordou a “Conexão entre serviços de saúde e comunidade para segurança do paciente na prevenção de lesão por pressão”, fomentando um ambiente de partilha de conhecimentos e experiências.
Já no Helv, as ações da campanha iniciaram esse mês e, no dia 11 de dezembro, deverá ocorrer um workshop com palestras sobre o tema.